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O LIVRO DE TARCÍSIO Caminhar continua caminhando José Edmar Gomes

  • José Edmar Gomes
  • 26 de dez. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


O lançamento do livro de poemas, Caminhar, do jornalista Tarcísio Pádua, foi um fato importante na rotina cultural de Sobradinho. O livro vem caminhando, desde 4 de julho de 2018, quando foi lançado no Beirute da 109 Sul.

O Velho Beira ficou cheio e o autor vendeu livros à beça. Foi uma noite interessante.

Reencontrei meu velho amigo Carlos Elias. Ele, certamente, não me reconheceu, mas conversamos a noite toda, sobre tudo. O Velho Beira continua o mesmo. Nós é que mudamos... e como.

Tarcísio era jornaleiro,formou-se jornalista nos primeiros bancos do Ceub, juntamente com Renato Russo e outras figuras tipo “bicho grilo” do DF.

Há tempos, ele escrevia poemas(e até ‘textículos’), pelas ruas, pelos bares, para as moças, para as coisas, para os lugares, para o nada. Para tudo. Até que resolveu dar forma de livro ao material. Demorô.

O também jornalista Antônio Décio de Carvalho, no prefácio, da obra, afirma que Tarcísio é um poeta que traduz o dia-a-dia, o cotidiano, para as páginas do livro.

“Seus poemas nasceram de sua garra de escritor, morando em Brasília - DF, que clama por revelar os momentos comuns da “Vida” das pessoas,” tropeça o prefaciador.

O PREFACIADOR

Caminhar é um livro simples. Honesto. Não é preciso dourar as ‘píulas’ para descobrir que a poesia de Tarcísio sopra como o vento nas folhas das árvores. Às vezes, é melancólica, como o pássaro buscando o ninho ao final do dia... E despretensiosa como criança atrás de uma bola.

“E o poeta, ao viver esse “Encanto” do viver, percebe que a simplicidade está mais próxima da humanidade do que se imagina ou se deseja,” desexplica o nosso caríssimo prefaciador.

Não importa que o prefaciador vá além do que deveria, que o livro não tenha orelha, texto de contracapa, que o cara que caminha na foto da capa não seja o poeta e que o “autor clame por revelar os momentos comuns da “Vida” das pessoas”.

O importante é que Tarcísio escreveu o que queria,do jeito que queria, chegando mesmo a parodiar Roberto Carlos:

"Eu só quero um camnho:/Caminhar sob o céu/De Sobradinho" (Caminhar, pág.38)

É nóis!

POLÍCIA

E Caminhar foi caminhando. Foi atração da IV Bienal Brasil do Livro e da Leitura, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em setembro de 2018.

E também foi caso de polícia: no estacionamento da Bienal, o carro do autor foi arrombado e os larápios levaram apenas exemplares de Caminhar, deixando para trás obras da literatura universal.

A história rendeu entrevistas na mídia e muito falatório. Eu vi tudo (pela TV), mas não acredito em nada. (Seria o Binidito ou Jacaré?). De qualquer forma, o BO foi registrado na 5ª DP.

Mas Caminhar foi caminhando... Tarcísio o levou ao Sarau do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB); à Poesia Candanga, no Martinica Café; à tarde de autógrafos, no restaurante Morada Mineira de Sobradinho e à Mostra Latino-Americana de Artes, dia 13 de setembro de 2018, na Galeria Vincent Van Gogh, em meio às feras das artes plásticas.

O livro também foi lançado na Praça das Artes, durante as edições do Projeto Arte na Praça. Está nas bancas de jornais, na capanga do poeta e onde mais o aceitarem. Caminhar já tem quase ano e meio de caminhada e não vai parar. Qualquer dia, você vai se deparar com ele por aí.

Dois dedos de prosa sobre a poesia de TP

José Edmar Gomes

Aforismos, diatribes, devaneios e inconfidências, além de poesia, é claro, compõem as páginas de Caminhar. O livro do jornalista Tarcísio Ferreira Pádua, o popular TP, além de ser um inventário de sua vida, revela em pesadas tintas o amor que ele sente pela Cidade Serrana.

“Eu só quero um caminho:/Caminhar/Sob o céu de Sobradinho”, confessa Pádua, à pág. 38. Os versos são mais do que verdadeiros. Tarcísio, de fato, passa boa parte do seu dia a dia a caminhar literalmente pelos espaços da Cidade, serpenteando os diversos “trieiros” que atravessam ou circundam as faixas verdes das quadras.

Deste caminhar, que mais parece o planar de um gavião a mirar a sua presa, é que vem as imagens e impressões que constroem o conteúdo de Caminhar.

Versos, às vezes simples, capturados à banalidade da vida. Assim como em Corrida (pág. 56): Os que correm/Morrem./Os que não correm/Morrem./É certo, todos/Morrem. Por isso, todos/Correm.

Às vezes, reflexivos e impactantes, como em Caminhos (pág. 39): ... Sei que preciso aprender,/ O mais rápido possível,/ A mover moinhos./ Senão, de repente, eu nem sei/ Quais serão meus pequenos caminhos.

Assim, os textos vão alternando profundidade e leveza. Alguns, um tanto confessionais, que faz o livro semelhante a um diário da vida ‘ordinária’ e extraordinária do poeta, que já poetou com Renato Russo e outros luminares de Brasília, nos tempos dos Poetas do Ceub.

Pádua participou, também, de coletâneas, publicadas Brasil afora, e partilhou comigo, por duas décadas, as amarguras e delícias, de editar e dirigir este Folha da Serra. Sou suspeito para falar dele, portanto.

Tarcísio, que também é jornalista e diplomata de carreira, como todo poeta, é dotado de alma e sensibilidade especiais que o permitem ver beleza e graça em situações, coisas e circunstâncias improváveis para os comuns mortais, que não têm o faro, nem astúcia, nem lira, nem lábia, nem lápis para cantar à sua musa versos inspirados ou tiradas vagabundas, dignas de uma paixão de sexta-feira à noite, num bar qualquer.

Se a alguém interessar possa, confesso que gostei do que li em Caminhar. Observo, porém, que, às vezes, o tom confessional individualiza o seu autor, que não se peja por suas paixões mais sôfregas e até as culpa por sua solidão.

Solidão... esse sentimento comum aos poetas que, quase sempre, embaralham um monte de desejos e incontidas paixões.

Mas, a solidão encontra na poesia de Pádua alento e porto para compensar a incompreensão das mulheres que sempre abandonam os poetas, enquanto eles se fecham no seu quarto de angústias para produzir versos de amor a elas, o que consome o tempo que deveria ser dedicado a amá-las.

Mas quem entende as mulheres? Os poetas? E quem entende os poetas? As mulheres?

As mulheres, com certeza, não entendem que o ofício do poeta é perseguir a poesia na rua, na chuva, nos bares, dentro dos ônibus e dos trens, no quintal ... e, por isso, não sobra tempo ao poeta para cortejá-las, assim como eles cortejam as palavras.

As mulheres...Ora, as mulheres... é por elas também que os poetas empreendem toda essa jornada pela vida. Jornada, muitas vezes, insensata e perigosa, que os fazem partir para o ridículo de duelar por sua amada ou para a coragem de declinar seu nome, num poema tosco, escrito sob uma tosca mesa de butiquim.

Ser poeta dá trabalho… E o pior é que as pessoas acham que não. Que poesia vem só da iluminação. Assim como num instante de beatitude. Mas não, os poetas sofrem porque se expõem e não mentem. E a verdade dói em todos. Tanto nos que a declinam, quanto nos que a sublimam.

Caminhar tem o mérito, também de expor os sofrimentos e mazelas da vida do poeta. É um livro honesto, portanto. Honestidade de propósito edifica o resultado de qualquer trabalho.

Continue a caminhada, meu caro Tarcísio, pois é longa (ou não) a estrada da vida e a poesia, às vezes, se esconde atrás da utopia ou “daquela serra acolá”, mas é caminhando que se chega lá.

 
 
 

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