Macarius traz rock inquietante e transcendente à Praça das Artes
- Edmar Gomes
- 14 de jul. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2022
O roqueiro Angelo Macarius e sua banda Fusion foram as fulgurantes atrações musicais do Projeto Arte na Praça, na noite de 11 de maio, em mais uma edição cinco estrelas do projeto Arte na Praça, realizado na Praça das Artes de Sobradinho.

Angelo Macarius à frente da banda Fusion: rock and roll autoral e álbuns na praça
Eles, de fato, impactaram a plateia com o repertório autoral dos dois álbuns da banda, de abordagem transcendente, que está registrado no CD Andarilho, gravado em 20015, e no EP Cuidado com o andor, gravado este ano e, até então, desconhecido do público.
Parte da plateia, mais afeita à MPB, recebeu com certo espanto a proposta da Macarius Fusion, enquanto a outra parte “viajava” com a banda.
Macarius já deixou bem claro que canta para quem se identifica com sua música e estiver buscando algo na vida espiritual. Desta posição, certamente, vem sua postura no palco: olhos fechados, corpo leve, quase levitando...
Sua interpretação para as canções de O Andarilho e do novo trabalho, ás vezes, parece um sopro; outras, um furacão, que deixa as pessoas à deriva, dançando com suas almas desconhecidas ou tentando agarrar os raros pontos de luz que, talvez, venham de suas auras.
LOUCO DO TARÔ - É isso mesmo. Um observador mais atento percebe que o som da banda e a performance de Macarius atingem o inconsciente coletivo e liberam certa energia, que as pessoas podem até não perceber que estão experimentando, mas estão.
A própria leitura que o roqueiro faz do seu trabalho confirma estas impressões. Ele diz que o Andarilho é um disco conceitual, baseado no arquétipo do louco do tarô. “O que nem sempre é acessível ao entendimento popular, mas também não quer dizer que não o seja”, explica.
Para Macarius, as buscas ideológicas e filosóficas de hoje são pulverizadas. “Não são como nos anos 60 – com repique nos anos 90 – quando os interesses das massas pendiam para os gurus, o ocultismo a vivência em comunidades ou, mesmo, em permanecer no fundamentalismo”, explica.
Para ele, as muitas as opções ideológicas e filosóficas de hoje dispersam a identidade dos indivíduos.
O ANDARILHO - Esta situação, segundo Macarius, leva a arte autoral a percorrer caminhos tortuosos até chegar ao mercado. Longe do furor da mídia, que fabrica mediocridades instantâneas, ele e o guitarrista Samuel Lila produzem seus discos e, ainda, arcam com negociação de shows, burocracia, som, estúdio...o que deixa pouco tempo para a divulgação do produto musical.
Apesar de tudo isso, o Andarilho recebeu diversos comentários favoráveis da mídia especializada. O jornalista Celso Araújo, da Rádio Cultura, declarou que o CD é um dos melhores discos do panorama de autor de Brasília.
Enquanto Cristiano Porfírio, da RadioWeb, de Águas Claras, num tiro certeiro, disse que O Andarilho é um disco de brasilidade relevante, dentro da linguagem do rock and roll.
O artista plástico Toninho de Souza, por sua vez, viu, nas letras das canções, reflexões que vão além da simples postura do andarilho.
Mantendo a assinatura de produto alternativo, as músicas são tocadas na Nacional FM, Cultura, rádios web, 4 Tempos, nas rádios de Sobradinho e o CD é vendido durante os shows.

Os integrantes da banda absorveram completamente a proposta musical de Macarius
ANDOR - Se assim foi com o Andarilho, mais se espera do EP Cuidado com o andor, contendo cinco músicas, três inéditas, que foram a grande surpresa do show de 11 de maio.
As cinco faixas do novo trabalho têm peso proporcional à polêmica abordagem das letras e à ferocidade do canto de Macarius, que ecoa na imensa plataforma em que estão a postos (Samuel Lila (guitarra) Gean Carlos (contrabaixo) e Luciano Bispo (bateria), inteiramente comprometidos com o som que o cantor busca obstinadamente...
A faixa de abertura, Anjo de Portugal - construída a partir de um poema do jornalista José Edmar Gomes (este mesmo que vos escreve) - dialoga com a divindade, diante da impotência dos governos em superar as convulsões sociais que abalam o mundo.
Macarius afirma que o Anjo o tocou a fundo, pois aborda com propriedade certas questões místicas, levanta outras questões histórico-políticas universais “e a letra possibilita várias interpretações”.
“Eu elaborei a melodia tocado por um profundo sentimento de compaixão e a banda fez o arranjo, que eu gostei muito. É um som que evoca os anos 70. Ficou muito bom e interessante”.
ANJO - O artista diz que está produzindo várias músicas para um novo álbum, mas o EP, contendo o Anjo será lançada primeiramente em Portugal, devido à abordagem dos acontecimentos que precederam o aparecimento da Virgem de Fátima.
Em seguida, nos países de língua portuguesa e no resto do mundo, “já que a letra aborda as guerras, a fome e a paz, que são temas que sempre afetaram a humanidade”.

Angelo Macarius e o baterista Luciano Bispo (atrás na foto) são os autores de Pau Pereira
Nas demais faixas, como sempre, Angelo Macarius canta para as divindades e para certas pessoas. Seu discurso musical se torna mais instigante quando confessa: “Eu confio pouco em quem não viu Deus”, na faixa Barganha Divina- de sua autoria - um rock agalopado, que dialoga com a poética dos trovadores medievais.
Pau pereira, parceria entre Macarius e o baterista Luciano Bispo - é outra sacada em cima de imagens que estão registradas no inconsciente coletivo de quem habita o sertão nordestino, convulsionado por desmandos e outras maldades.
Let’s go rider - também de sua autoria - é um hino à liberdade, um ato de amor a três: o vento, a estrada e a velocidade. Coisa de estrada, dos seres que se integram ao motor e às duas rodas para seguir o vento.
Já a balada Abismo, que fecha o EP, é a faixa mais tocada do CD O Andarilho, de roupa nova.
Cuidado com o andor, contudo, é rock and roll em estado puro. Talvez, por isso, a praça ficou em silêncio litúrgico ao ouvir a Macarius Fusion.
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