MARQUINHOS METIER Irreverência e politização na praça
- Jose Edmar Gomes
- 9 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2022

Metier no palco das Praça das Artes: irreverência e engajamento político
Ele é realmente rebelde como deve ser um bom roqueiro. Mas o seu universo musical vai além do rock e descamba para a MPB, samba e axé.
Tem gente que jura que o viu cantando até sertanejo com Cláudio César, após seu show na Praça das Artes. Eu não acredito. Mas, em se tratando de Marquinhos Metier, tudo é possível.
Foi esse artista, versátil, irreverente e cheio de bossa que assumiu o palco principal da Praça das Artes, no sábado, 10 de março de 2018, para comandar o show da 29ª edição do Projeto Arte na Praça, após a realização das feiras e das oficinas temáticas.
Metier subiu ao palco às 19h - acompanhado por uma banda de respeito, composta por César Santon (bateria), Eduardo Dudu (guitarra) e Fábio Negrão (baixo) - e abriu o espetáculo com o melhor de Cazuza.
Bete Balanço foi a primeira; depois veio Pro dia nascer feliz, Ideologia e Codinome beija-flor. Beleza, não podia começar melhor. Afinal, o repertório de Cazuza já virou hino nacional.
Bichos escrotos - Marquinhos Metier, com a ousadia que Deus lhe Deus, foi adiante e, em seguida, atacou de In this love, de Bob Marley e prosseguiu com uma seleção do U2, começando por One; depois atacou Crazy (Seal) e voltou para o rock nacional com Skank, Nando Reis e Rapa.
A esta altura, a temperatura ambiente já estava bem alta e Metier entrou no universo de Renato Russo, atacando de Tempo Perdido e Será.
Mas, o bicho pegou mesmo foi quando ele mandou Bichos escrotos (Titãs) e convidou o público para repetir o refrão: Vão se f..., (porque aqui na face da terra, só bicho escroto é que vai ter), politizando ainda mais o clima, que já era de protesto.
Neste ponto, o show já deveria ter terminado, mas a pedido do público, Metier prosseguiu perguntando Que país é esse? E partiu literalmente para o discurso político, afirmando que o voto é decisivo para mudar o atual estado de coisas.
“Tudo depende do voto, não podemos continuar deitados num berço esplêndido, feito de plástico barato”, discursou. E novamente perguntou: Que país é esse? “Será que não sabemos usar a cabeça?”
The Wall - Quando todo mundo pensou que o show tinha terminado, Ele pegou o violão e começou a entoar os acordes de The Wall (Pink Floyd):
“We don't need no education / We don't need no thought control / No dark sarcasm in the classroom / Teachers leave them kids alone/ Hey! Teacher! Leave them.
(Nós não precisamos de educação / Nós não precisamos de nenhum controle de pensamento / Nenhum sarcasmo escuro na sala de aula / Professores deixam as crianças sozinhas / Hey! Professor! Deixe-as)”
O público cantou junto e Marquinhos disse: Vou cantar esta música até o dia que morrer. Este, sim, é Marquinhos Metier.
Sobradinho - Após o show, Marquinhos Metier falou à reportagem sobre o panorama musical de Brasília e de Sobradinho.
Para ele, o cenário musical brasiliense é muito burguês, pois “sempre ocorreu nas asas do Plano Piloto e a galera de Sobradinho tinha que descer a serra para tocar”.
Para ele, o Projeto Arte na Praça inverte essa lógica e dá oportunidade para os grupos e músicos da cidade serrana mostrar seu trabalho.
“Brasília não é o berço do rock, mas o berço da música”, filosofa Metier. Ele lamenta, no entanto, que os grupos musicais de Sobradinho, como o Luz do Samba e seu próprio não tenham tido oportunidade de aparecer.
Para o músico, o excesso de regulamentação governamental interfere na expansão do mercado consumidor de música e, consequentemente, na visibilidade dos artistas.
Metié entende, também que o rigor de horários proposto pela atual legislação tornou “Sobradinho uma cidade morta” em que não se faz nada depois das 22 horas.
“E o pior é que à meia-noite você tem que ir embora”. Falou e disse.
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