Angelo Macarius incorpora espírito da música no palco e lança novo single na Praça
- Da redação do Folha
- 16 de abr. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2022

Angelo Macarius no palco da Praça das Artes: energias mediúnicas e presença do “espírito da música”.
O roqueiro, o ator, o performer, Angelo Macarius, é um dos artistas mais inquietos do atual cenário do rock brasiliense e, seu último álbum, lançado em 2015, O Andarilho (ou Procurando por Deus) recebeu rasgados elogios da imprensa especializada da capital, que considerou o trabalho criativo e original.
Angelo tem mais de 18 anos de atuação musical e tudo começou na virada do século. No ano 2000, ele fez seu primeiro registro fonográfico, na coletânea Conexão Carioca 2, lançada pelo selo Guitarra Brasileira, figurando como único artista candango.
Em 2003, ele fundou a banda Lotus Negro, com a qual percorreu os quatro cantos do DF, participando de eventos e festivais. Além disso, a Lotus frutificou o Thomo I, CD autoral de 2004, e ainda inseriu três faixas, também autorais, na coletânea Demolição 2, do selo Porão do Rock.
Em 2005, Angelo Macarius participou do CD Orquestra da Favela, do grupo de rap Química Fatal, no qual desenvolveu os vocais em cinco faixas. Nesta época, ele também produziu e apresentou o programa Rock ao cair da tarde, da TV UnB.
Antes de lançar O Andarilho, porém, ele compôs, junto com Athan Pinho, a canção Mistura, que integra o CD da banda Jenipapo, lançado em 2013, pelo FAC, além de excursionar por Teresina-PI e Goiânia. Ele se apresentou ainda no Espaço 21, na Feira do Piauí, no Espaço Cultural T-Bone e no Flórida Mall.
Angelo também produz trilhas sonoras para filmes. É dele, por exemplo, as músicas dos curta-metragens Homilia, O Duplo e Fausto, de José Campos, e Expresso, de João Lucas Braga.
Artista muito popular em Sobradinho e nas “hordas” do rock brasiliense, Macarius e sua atual banda Fusion (composta por Samuel Lima - guitarra, Luciano Bispo - bateria e Gean Carlos - contraixo) causaram profundo impacto na Praça das Artes, na noite de 24 de fevereiro de 2018.
Ao fechar a programação musical da 27ª edição do Projeto Arte na Praça, com um show evocativo dos anos 70, cuja base foi o repertório do último CD, eles surpreenderam o público com o novo single Anjo de Portugal, que será lançado em Portugal, via distribuição digital, nos países de língua portuguesa e no resto do mundo.
Energias - As letras inquietantes e até desconcertantes de O Andarilho uniram-se às evocações transcendentais, políticas e pacifistas propostas no poema Anjo de Portugal, escrito pelo jornalista José Edmar Gomes, que foi musicado por Macarius e recebeu arranjo todo especial dos integrantes da Fusion.
As propostas do novo single uniram-se às particularidades de Angelo Macarius, que tem uma postura teatral no palco e parece espalhar energias mediúnicas ao derredor. Ele internaliza, de tal maneira, o que está cantando que imediatamente uma empatia toma conta do público e uma forte catarse se estabelece.
Os versos de o Anjo apelam ao padroeiro da nação portuguesa contra os males do mundo. Assim, “a sede, a fome, as guerras e as injustiças são denunciadas a quem tem poder de mudar as coisas, já que as ações do homem parecem encaminhar a humanidade para o abismo”, afirma o autor do poema.

Letra de Anjo de Portugal : temas universais em abordagem poética
A canção, de forte apelo emocional - cujos versos traduzem um sentimento universal e podem ser entendidos em todo o mundo - encontrou em Macarius o intérprete ideal “para fazer este angustiante apelo pela salvação do mundo a quem tem poder, seja no céu ou na terra”.
Catarse - Após o show, Angelo Macarius falou ao Folha da Serra sobre o novo single, o seu rock astral, espiritualidade e sobre o movimento musical de Sobradinho.
Em relação à postura extasiática que ele assume ao subir no palco, o roqueiro diz que, de fato, vem buscando a comunhão com a divindade, desde que fundou a Lotus Negro, quando começou a espiritualizar o trabalho, incorporando elementos da cultura oriental.
“Cheguei a um ponto da minha vida em que as questões espirituais passaram a me tocar mais. Tentei espiritualizar a coisa sem dogma e sem preconceitos”, explica.
O artista diz que desenvolveu mais o lado direito do cérebro - região responsável pelo subjetivismo e pela intuição. - o que o levou a preferir “as coisas do oriente” ao invés das do ocidente.
Sobre a catarse que se estabelece nas suas apresentações, o cantor esclarece que nas representações teatrais gregas, o sentimento que tomava conta dos atores era atribuído à presença das musas.
No caso da música - e do seu caso – o artista credita a catarse ao espírito da própria música. “A música e as expressões artísticas são divinas por si sós”, esclarece.
Para o roqueiro, a questão da espiritualidade é real e ele a sente quando pisa no palco. “Mesmo que eu não saiba quem está ali, há alguém presente. Eu sinto”, explica Macarius, atribuindo esta sensação aos anjos ou talvez à Euterpe, musa da música da mitologia grega.
Ele vai mais fundo na viagem espiritual quando afirma que, hoje, prefere não se governar, mas deixar que o Divino o governe. No entanto, a “sacada poética” de Macarius, segundo ele próprio, é no sentido da transformação das pessoas.
Para ele, toda busca espiritual começa quando o indivíduo percebe a futilidade da vida. “O que é um barato meio dolorido, mas desperta o outro lado”, ensina.
Anjo de Portugal - Angelo Macarius afirma que o seu novo single Anjo de Portugal o tocou muito, pois aborda com muita propriedade certas questões místicas, levanta questões histórico-políticas universais e a letra possibilita várias interpretações.
“Eu elaborei a melodia tocado por um profundo sentimento de compaixão e a banda fez o arranjo, que eu gostei muito. É um som que evoca os anos 70. Ficou muito bom e interessante”.
O artista diz que está produzindo várias músicas para um novo álbum, mas o Anjo será lançada primeiro, como single, em Portugal, devido à abordagem dos acontecimentos que precederam o aparecimento da Virgem de Fátima.
Em seguida, nos países de língua portuguesa e no resto do mundo, “já que a letra aborda as guerras, a fome e a paz, que são temas que sempre afetaram a humanidade”.
Sobradinho - O artista vê o movimento musical de Sobradinho com “a lupa da verdade”. Segundo ele, existem muitos intérpretes na cidade, mas poucos pessoas que criam suas próprias músicas “e é essa rapaziada que está buscando espaço e o Projeto Arte na Praça é uma ótima oportunidade”.
Macarius observa, no entanto, que o projeto deveria direcionar o conteúdo musical para a produção autoral, o que poderia refletir com mais nitidez a cultura local, ainda que o público possa não estar preparado para isso.
Ele observa que o melhor show da Praça das Artes foi o dos Canários que, na sua opinião, interpretam as músicas com tanta propriedade que, quando cantam algo autoral, ninguém diferencia, “devido à leitura que eles fazem das canções”.
Para Macarius, o artista tem que arriscar-se e expor suas habilidades. “Se ele tem talento para interpretar música alheia, deve ter também para as suas próprias. É preciso fazer valer nossas próprias ideias, para podermos dar o salto”, completa Angelo Macarius.

Da esquerda para direita, Gean Carlos (baixo), Luciano Bispo (bateria), Angelo Macarius ( vocal), Samuel Lila (guitarra) : MACARIUS FUSION
תגובות