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ALBERTO SALGADO Um show "cabaça" na Praça das Artes

  • Josê Edmar Gomes (texto e fotos)
  • 23 de mar. de 2018
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


Alberto Salgado no palco do Projeto Arte na Praça: a nova expressão da MPB vive e reina em Sobradinho

Sábado, 27 de janeiro, dia de sol, dia Sal...gado na Praça das Artes. Ele, mesmo, o emblemático e discreto Alberto Salgado. Aquele que não tem pele debaixo da unha do dedão do pé e está além dos quintais, talvez procurando por uma cabaça d’água.

Coisas difíceis de achar, hoje em dia. Tanto a cabaça, como a água, pois não? É que, às vezes, chove um ano bem e dez não. Mistérios da natureza. Pensem nas secas terras de Sta Luzia da Paraíba, no sertão da Baia e no Velho Chico com pouca água na bacia. Por aqui também, cabaça é difícil. O agricultor gosta de plantar mesmo é $oja. Quando muito, planta melancia.

Mas voltemos à Praça das Artes, onde está Salgado e sua família, este artista que, a cada dia, mais dignifica a música brasileira/brasiliense. Ele, sim, o responsável pelo show principal da 23ª edição do Projeto Arte na Praça. Arte mesmo. Arte reconhecida pelo Brasil e quiçá pelo mundo. Não demora.

O Cantor, compositor e multi-instrumentista sobradinhense, para a surpresa dos desavisados, foi o vencedor da categoria de Melhor Álbum Regional, pelo seu segundo CD, Cabaça d’água, no Prêmio da Música Brasileira, dia 19 de julho passado, no Rio de Janeiro, na presença de Elza Soares, Alceu Valença, Maria Gadú e Ivete Sangalo, e de uma certa Carol Concá, entre outros ícones da MPB.

Além do mais, Chico, o Buarque, apareceu na internet mandando agente comprar o Cabaça. O Chico tem cabeça, mesmo. Eu que não sou besta comprei logo e ainda ganhei um autógrafo e um abraço do Salgado. Tô consagrado. Ói.

Salgado também foi homenageado pela Câmara Legislativa do DF, por proposição do distrital Ricardo Vale. O artista é um homem feliz e generoso, ele anda cantando por aí, sem cobrar dinheiro e sem importar com o tamanho do seu valor. Cantou, inclusive, na Segunda Sem-Lei, de Carlinhos Voador.

Salgado também já venceu vários festivais, Brasil a fora. Gravou, com Arnaldo Antunes e o pernambucano Kiko Klaus, seu primeiro CD, denominado Além do Quintal. Seus dois discos têm outras participações e parcerias importantes, como Arthur Maia, Manassés de Souza, Chico César e Climério...

E tudo começou em Sobradinho, aos 8 anos, quando o Salgadinho começou a jogar capoeira e internalizou a batida do berimbau, as chulas, ladainhas e sambas das rodas.

Em casa, seu pai ouvia Dorival, Chico, Caetano... Só coisa boa, que calava fundo no coração do futuro músico que, logo, sentiu que a música era uma grande mistura do Brasil com os Brasis. E deu no que deu.

Cabaça - As composições dos dois álbuns trazem a formação em violão clássico e a vivência do artista em rodas de capoeira, misturadas aos batuques africanos, o que torna a música de Salgado brasileiramente universal.

O show da Praça das Artes foi mesmo marcante. Afinal Salgado, seu violão e seus músicos já viraram sinônimo de bom gosto e apelo político pertinente e consequente, como está dito em Cabaça d´água, que dá nome ao disco que delineou o show.

A música, concebida dentro dá pegada da capoeira, é um clarividente manifesto contra as agressões ao meio ambiente, o descaso com o consumo d’água e parece arrancar poeira do chão do leito seco dos rios.

É em meio a esta nuvem de preocupação que Alberto Salgado arautiza em versos, concebidos com Werner Schelle, a verdade que o mundo insiste em não ver.

No entanto, se a indagação é desconcertante, o lirismo dos versos não deixa ninguém ficar indiferente ao apelo do artista: “Se agora no mundo acabasse a água de beber / E no fundo do copo restasse sede de viver / Que que cê ia fazer camarada?/ Que cê ia fazer”?

Responda quem for capaz...

Jangada/Ave de mim - Ele passeou também pela Da jangada em pleno mar, música de sua autoria, em que o violão vai com jeito pra cima da percussão, fazendo os versos do poeta-professor piauiense, Climério Ferreira, ganharem a força necessária para clamarem por justiça social : “Uma jangada em pleno mar/ À mercê de ondas colossais/ É assim que meu peito está/ Diante das injustiças sociais”.

Teve também Ave de mim, a já lendária parceria de Salgado com Chico César, que ficou pronta em 24 horas, ou menos. É a sétima faixa do Cabaça d’água, que tem a participação de CC. Salgado enviou a melodia e, no outro dia, CCésar enviou a letra cantada, em cima. Salgado cantou sua parte e, assim, a faixa foi gravada.

Esta turminha aí também canta. Afinal, são filhos de peixe. Quer dizer, de Alberto Salgado

Unha - Já o impagável forró/xaxado, Pele Debaixo da Unha, tem letra e música de Alberto Salgado e, no CD, tem participação de Silvério Pessoa, relata o dia em que, mesmo com a pele do dedão arrancada, depois de um tropeção, o artista foi xaxar no show do pernambucano cabeça-feita, que é uma espécie de médium que incorpora Jackson do Pandeiro, Chico Science e Alceu Valença, lá pelas bandas do Mangue Beat.

Em 1998, quando participava do grupo Cascabulho, Silvério Pessoa foi premiado, com as estatuetas de melhor grupo regional e melhor música, pelo antigo Prêmio Sharp, que virou Prêmio da Música Brasileira, que agora premiou Salgado.

E veio mais música: Ói, (letra e música Aberto Salgado), é um baião bem humorado, que relata uma história de amor complexa e provocante, a julgar pelos versos profundos que a explicam: “Ói que a tua coragem não me põe medo (...) Ói que cê dormiu tarde e eu acordei cedo”.

Carol Senna, a designer, canta, dança e tem um sorriso todo especial

Carol Senna - O show foi adiante, com mais músicas do Cabaça d’água e algumas do primeiro CD, Além do quintal, como Pra você sambar e uma brilhante participação de Carol Senna, a noiva, e de Pedro e Mariah, filhinhos de Salgado, que cantaram e dançaram Joga a isca.

Aliás, Carol Senna - com C e n dobrado, como deve ser uma bela Senna – além de noiva de Salgado, é uma talentosa designer gráfica, que concebeu a capa do CD Cabaça d’água , transformando o discurso musical em comoventes imagens caótico-futuristas.

Além do mais, Carol é dona do sorriso mais generoso e sincero, que possa vir de uma pessoa. Eita, mulher interessante, Seu Alberto. Parabéns!

Ao final do Show, Alberto Salgado concedeu uma gostosa entrevista a este jornalista que vos escreveu que, no entanto, não pôde ser incorporada ao presente texto, pois um(a) deformado(a) furtou meu telefone com a gravação. Uma tremenda injustiça social, não acham?

(José Edmar Gomes)


 
 
 

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