top of page

ENTREVISTA RICARDO VALE Segunda parte Porquê Paulo Tadeu se tornou invisível e quem tem culpa

  • Foto do escritor: Edmar Gomes
    Edmar Gomes
  • 1 de nov. de 2017
  • 7 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


Vale: A diretoria da Sodeso é que tem que explicar porque o clube chegou a esta situação

Nesta segunda parte da entrevista do distrital Ricardo Vale (PT) ao jornalista José Edmar Gomes, do Folha da Serra, o deputado explica porquê seu irmão Paulo Tadeu abandonou a militância partidária e se tornou invisível politicamente. Ricardo desfaz os comentários que, volta e meia, ouvimos na comunidade dando conta de que seu irmão ou ele estariam envolvidos na compra da área da Sociedade Desportiva Sobradinhense (Sodeso), que, há muito tempo, está abandonada.

“A diretoria que permitiu que o clube chegasse a essa situação é que deve explicações à comunidade, não sou eu. Você tem que perguntar é pra diretoria da época”, rebate o deputado, com indignação.

Ricardo Vale também analisa o governo Agnelo, a situação política, o futuro de Lula e do PT e desanca a última reforma política: “Isso não é reforma. É enganação. Quem tem dinheiro pode financiar quase cem por cento da campanha. E quem não tem”?, dispara. Veja estes e outros assuntos, a seguir:

FS – O seu irmão, Paulo Tadeu, que teve votação espetacular para deputado federal, em 2010, e foi chefe da Casa Civil, no governo Agnelo, era uma liderança em ascensão e tinha chances de chegar ao Buriti. Mas, de repente, ele decidiu se tornar invisível politicamente. O que aconteceu, realmente?

RV - Vou te dizer o que nem eu, nem Paulo, dissemos a ninguém. É um furo de reportagem pra você. Paulo decidiu abandonar a política partidária por decepção, principalmente com gente ligada ao próprio partido. Chegou um momento em que ele não sabia mais quem era seu amigou ou inimigo dentro da política. Isso o decepcionou muito. Ele trabalhou muito no governo Agnelo, pela primeira vez estava no governo. No governo Cristovam, ele permaneceu no sindicato, depois rompeu com Cristovam. Cristovam perdeu a reeleição e ele se tornou deputado federal. Ele passou 12 anos fazendo oposição a Roriz e a Arruda, até que o PT voltasse ao poder e ele se tornasse secretário de governo. A intenção dele era fazer o máximo por Brasília e, lógico, de forma correta. Mas, de repente, ele se depara com um monte de gente fazendo coisas erradas, não só do nosso partido. Isso foi uma enorme decepção pra ele. Enquanto ele lutava contra os erros, chegava um monte de propostas erradas... Aí chegou um momento que ele disse: não foi pra isso que eu lutei. E decidiu sair. Acho que ele fez a coisa certa. Tanto fez, que o Agnelo não passou nem para o segundo turno.

FS – O senhor poderia citar uma situação, pessoas ou episódios que despertaram essa desesperança em Paulo Tadeu?

RV – Não tem pessoas ou episódios, tem o conjunto da obra. Ele viu que o governo ia dar em nada. As alianças amplas demais e a prática de fazer as coisas a qualquer custo tiraram do Paulo toda a esperança no governo Agnelo.

FS - Ele teve uma votação fantástica para deputado federal. Era, de fato, uma liderança de Brasília. De repente, a esperança desaparece sem nenhuma explicação. O senhor não acha que os eleitores dele mereciam uma explicação?

RV – Acho que, no fundo, ele tinha alguma esperança que as coisas entrassem no eixo. Por isso não fez nenhum alarde. Ele não é personalista, saiu discretamente.

FS – Desculpe-me, deputado, mas conheço outra versão para a saída de Paulo Tadeu da política. Uma fonte do próprio PT revelou-me que, ao peitar, a máfia que controlava as licitações da coleta de lixo, na época, ele e sua família foram ameaçados. Isso procede?

RV - Não. Nós enfrentamos Luiz Estevão, Roriz, Arruda e outros esquemas, sem que o Paulo se abalasse. O motivo da saída do Paulo da política foi o conjunto da obra daquele governo. Lembra-se do policial que jogou dinheiro, em cima da mesa do palácio? Tudo isso o chateou demais.

FS - Por falar em João Dias, figura carimbada do governo Agnelo. Ele é uma prova viva de que algo estava errado...

RV – Verdade. Até hoje ninguém sabe onde ele arranjava tanto dinheiro...

FS – ... E quem permitia que ele se imiscuísse nos assuntos internos do governo...

Paulo Tadeu: decepção com a política, segundo Ricardo

RV – Ele chegou a entrar numa sala, ao lado da do Paulo, e espalhar R$ 200 mil. São coisas que decepcionam quem sempre lutou pela ética, como é o caso do Paulo que lutou a vida inteira.

FS – Isso significa que o senhor admite corrupção no governo Agnelo...

RV - A corrupção não é só dos gestores. Pode surgir em todas as esferas de um governo.

FS – Mas, apesar de tudo, o senhor ocupou um alto cargo no governo Agnelo...

RV – Quando Paulo saiu, foram criadas as Secretarias de Governo e a Casa Civil. Eu fiquei nove meses como subsecretário da Casa Civil. Não gostei e saí.

FS – Isso é sinal de que o Paulo deixou raízes no governo ou foi cota partidária?

RV – Foi um convite do governador. Fiquei apenas nove meses no cargo.

FS- Mesmo abandonando o governo, a imagem de Paulo Tadeu sofreu desgaste. As más línguas de Sobradinho dizem que ele enriqueceu. Tanto é que mudou-se para o Lago e estaria por trás da compra da área do clube da Sodeso, a preço de banana...

RV – Paulo Tadeu não ficou rico, sempre viveu do seu salário, como prova a sua declaração do Imposto de Renda.

FS - De qualquer forma, o arremate do patrimônio do clube a preço vil, na surdina, é muito estranho. As más línguas o acusam. Seria apenas maldade? A comunidade e os sócios do clube precisam saber a verdade.

RV – Nem o Paulo, nem eu, nem minha família ou amigos meus sabemos o que aconteceu nesse episódio. Tudo que sei vem dos comentários que ouvi na comunidade e de alguma coisa que saiu na mídia.

FS – O fato é que o patrimônio histórico da cidade foi arrematado por um preço vil e foi totalmente destruído pelo abandono e alguém terá que responder por isso, não acha?

RV – A diretoria que permitiu que o clube chegasse a essa situação é que deve explicações à comunidade, não sou eu. Você tem que perguntar é pra diretoria da época. O Paulo não tem nada com isso. Pelo contrário, agente quer é que o clube volte para as mãos da comunidade. Quem comprou tem que devolvê-lo, pois comprou de forma errada.

A Sodeso, patrimônio histórico de Sobradinho, está entregue ao total abandono

FS -Se o Lula for condenado pelo colegiado do TRF4, ele se inviabiliza como candidato. Neste caso, o PT também estaria inviabilizado como partido?

RV – Há uma orquestração das elites para tirar Lula do jogo. Mas as provas que sustentam as denúncias contra ele são muito frágeis. Não há nada de concreto. É diferente do caso Temer, que apareceu uma mala de dinheiro. Nem a denúncia do Palocci contra Lula tem provas. Creio que Lula vá escapar desses processos, devido à fragilidade das provas. Se ele escapar, o PT vai surfar na onda e recuperar o espaço político.

FS- E se Lula não escapar da justiça?

RV -Se Lula não for candidato, a situação do PT se complica, porque o partido não é mais referência para o povo, devido aos erros que cometeu. O PT poderá sofre muito, como já sofreu nas últimas eleições municipais, quando sofreu 60% de redução na representatividade. Se Lula não for candidato em 2018, o PT vai diminuir ainda mais de tamanho. Este é o pior momento do partido.

FS – Então o futuro do PT é incerto?

RV – Em política, tudo pode acontecer. A própria situação de Temer, hoje, está ajudando o PT. Ele acusava o governo Dilma pelas dificuldades que o país atravessa, mas o partido está fora do poder, há mais de um ano e meio, e a situação só piora. A corrupção continua, com Temer e seus ministros envolvidos. Eu diria que a situação do PT, hoje, é melhor do que há um ano, pois as pessoas estão vendo que o problema não era o PT, mas o sistema político. Qual o partido que está fora disso, hoje?

FS – O seu futuro político, também, depende da sobrevivência política de Temer?

RV – Meu futuro depende do meu grupo político, das pessoas que acreditaram e acreditam em mim. Não está atrelado ao Lula ou ao PT. Até porque nunca fiz parte de grupos de dirigentes nacionais ou do DF. Meu grupo sempre foi à esquerda do partido, um grupo menor.

FS – Então, o PT não influenciaria muito sua possível candidatura?

RV - O partido nunca nos ajudou em relação às candidaturas de Paulo Tadeu e da minha própria. Não dependemos muito do partido para continuarmos nossa trajetória. No entanto, é o Estatuto do PT que nos move: a defesa dos trabalhadores, dos movimentos sociais e das minorias. É por isso que estou no PT.

FS – A reforma das leis trabalhistas e a própria dinâmica do tempo enfraqueceram os sindicatos e os obrigaram a rever seus papeis. O PT ainda tem influência sobre os sindicatos e vice-versa?

RV – A situação mudou. Ainda que haja um atrelamento, com o fim da inflação, os sindicatos se perderam porque só aprenderam a fazer reivindicação salarial. Eles não olharam para necessidades sociais, como melhorias no transporte, na saúde, educação e segurança.

FS - Com o enfraquecimento partidário, que é geral, está surgindo a possibilidade de candidaturas avulsas. Essa ideia agrada ao senhor?

RV – Agrada, sim. Não vejo consistência na reforma politica e os partidos vão continuar na dependência financeira. Criou-se um fundo bilionário, que será gerido pelas direções partidárias, fazendo com que as novas lideranças partidárias se submetam aos caciques, impedindo que estas novas lideranças cresçam. A ideia de candidatura avulsa é boa, pois, a médio e longo prazos, não vejo perspectivas de melhora nos partidos.

FS- Sendo assim, o senhor poderia optar por uma candidatura avulsa, caso essa possibilidade se concretizasse?

RV – Poderia, sim. Posso também deixar de ser candidato, a partir do momento que não acreditar mais nas estruturas partidárias.

FS – O Congresso aprovou uma reforma política. Empresas não podem mais financiar campanhas e os gastos têm um teto...

RV – Isso não é reforma política. É enganação. Quem tem dinheiro pode financiar quase cem por cento de sua campanha. E quem não tem? Esta reforma só privilegia quem está no poder e não vai contribuir para renovar nada. Por isso é que eu sou favorável à candidatura avulsa.

(Leia a parte final desta entrevista nos próximos dias)


 
 
 

Comentários


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

2017 - Jornal Folha da Serra: Site desenvolvido por Pedro Lacerda e Angelo Macarius em proposta editorial de José Edmar Gomes

bottom of page