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AUDIÊNCIA PÚBLICA Ricardo Vale compra briga dos moradores e promete acabar com a catinga na Q.1

  • José Edmar Gomes
  • 7 de out. de 2017
  • 7 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


Ricardo Vale, na audiência pública, na Quadra 1: Problema do mau cheiro tem que ser resolvido de um jeito ou de outro

Até que enfim, uma autoridade pública lembrou-se do sofrimento dos moradores das Quadras 1, 3 e Setor de Indústrias de Sobradinho, que convivem com o mau cheiro exalado pela Estação de Tratamento de Esgoto da Caesb, que fica nos fundos da Quadra 1, desde 1967, ano que a ETA foi implantada.

Após cinco décadas – (e cinco décadas não são cinco dias) – muitas promessas e nenhuma ação efetiva para resolver o problema, o deputado Ricardo Vale convocou audiência pública para ouvir os moradores, especialistas no assunto, a Adasa e a Caesb – que os moradores consideram a vilã da história.

Ao apresentar as razões da audiência, realizada na noite de 5 de outubro, no Conjunto D1 da Quadra 1, Ricardo Vale afirmou que já morou na Quadra 5 e sabe muito bem o que é colocar a comida no prato e o mau cheiro se espalhar pela casa, fazendo com que as famílias percam até a vontade de tomar as refeições.

O deputado também apontou o prejuízo dos moradores com a desvalorização dos imóveis do Conjunto D1 da Quadra 1 para baixo, onde o problema é mais grave, e questionou o resultado dos investimentos da Caesb que, apesar de ter ampliado a capacidade de captação da ETA, não consegue reduzir o mau cheiro.

Esta situação, segundo os próprios moradores, tem os deixado impotentes diante de problema tão antigo e permanente, já que a própria companhia de saneamento afirma que gasta milhões e milhões para tratar o esgoto, mas o problema permanece...

Elísio Donizeth falou muito mas convenceu pouco

Caesb - O representante da Caesb, na audiência, o engenheiro químico Elísio Donizeth Gomes Luz, bem que tentou mostrar o serviço da empresa. Mas seu discurso, a cada palavra, se distanciava do que os moradores queriam ouvir: quando o mau cheiro vai acabar.

O técnico fez um histórico da performance da ETA de Sobradinho, destacando que ela foi a terceira a operar no DF e a primeira fora do Plano Piloto, entrando em operação, em 1967,com capacidade para atender a 50 mil pessoas, já sem conseguir tratar todo o esgoto e, em 1992, recebeu os primeiros aportes de produtos químicos para minimizar o mau cheiro, até que ampliação viesse.

Segundo o engenheiro, a tal ampliação começou em 2006 e só terminou em 2014. Enquanto isso, os moradores da região sofriam com o fedor, dor de cabeça, vômitos, ataque de moscas... e um vontade danada de “matar” o governador de plantão.

A ETA de Sobradinho vai receber mais esgoto de Sobradinho II e Grande Colorado. Moradores acham que mau cheiro vai aumentar

R$ 32 milhões - Nesses intermináveis oito anos de reforma, segundo o homem da Caesb, o governo investiu R$ 32 milhões em equipamentos modernos, fez a reengenharia da área e removeu o lixo (lodo) acumulado.

Donizeth explicou que as três lagoas de 2000m² cada, em que era depositado o esgoto, foram eliminadas e trocadas por um moderno equipamento, que separa a água da parte sólida do esgoto (lodo), que é transportado para ser processado na estação de Belchior.

“Na ETA de Sobradinho não ficam mais resíduos sólidos”, explicou o engenheiro da Caesb, querendo dizer, por tanto, que não há razão para o mau cheiro existir. Ele acrescentou que também foram instalados filtros nos locais que produzem gases para evitar a propagação dos gases.

Com estas alterações, segundo Donizeth, a ETA hoje tem capacidade para receber 196 litros de esgoto por segundo, mas está recendo apenas 77 l/s.

R$ 35 milhões - O homem da Caesb, ao que parece, quis dizer que estava tudo bem, tudo OK, e o que o fedor que, por volta das 19h, tomou conta do Conjunto D1, onde AP estava sendo realizada e permaneceu pelo resto da noite, era apenas algo que colocaram no nariz dos moradores, não no dele.

Ele disse mais: que a ETA está preparada para receber o aporte de esgoto que virá de Sobradinho II, Grande Colorado e Condomínios, por que ela foi ampliada para tanto.

Mas as informações desconcertantes da Caesb não pararam por aí. Donizeth disse, ainda, que, dentro de um ano, a ETA de Sobradinho vai receber investimentos de mais R$ 35 milhões para prepará-la para o crescimento de Sobradinho, já que o DF não tem mais para onde crescer, a não ser aqui para as nossas bandas.

Apenas no final da sua fala, é que o homem da Caesb deu uma pista do porquê de os milhões e milhões de reais aplicados na ampliação da ETA não acabarem com o mau cheiro.

Ele confessou que, diariamente, 20 caminhões-fossa de esgoto dos condomínios são depositados nos tanques da ETA para serem tratados. Esse esgoto, in natura, seria o responsável pelas insuportáveis ondas de mau cheiro que azucrinam a vida dos moradores, dia após dia.

Ele disse, no entanto, que quando as novas redes de captação dos condomínios e Sobradinho II entrarem em operação, a mau cheiro deve acabar, porque não vai mais ter esgoto in natura circulando pela ETA. Ah, bom!

Moradores - A representante da Adasa, Débora Tolentino, falou pouco, mas deu um “tapa de luva” nos moradores, que vivem desesperados com o mau cheiro e, no entanto, não procuram os canais competentes para reclamar. Segundo ela, a Ouvidoria da Agência não registra nenhuma reclamação sobre o problema.

O que não impediu o morador Zanir Abdala de assumir o microfone e denunciar que está pagando por um tratamento de esgoto que não existe. ”Muitas vezes tenho que sair de casa porque não aguento. O mau cheiro é insuportável”, revela.

Para o morador, a Caesb só se importa em captar mais esgoto e não se preocupa com a população, nem com as crianças. Indignado, ele revelou que sua casa já teve uma desvalorização de R$ 120 mil e que vai buscar reparação judicial.

Já Anderson Cléber da Silva, presidente da Associação dos Microempresários do Setor de Indústria da Quadra 1, disse que o local abriga 60 empresas, cujos trabalhadores sofrem com o problema, principalmente nas quadras 5 e 6 do setor.

Outro morador, Macilon de Oliveira Silva, afirmou que não vê resultado dos investimentos da Caesb. “Vejo só aumento da captação e do mau cheiro”. “Esse problema é antigo. Conseguimos nos livrarmos da fábrica de farinha de osso, mas não conseguimos nos livrarmos do mau cheiro”, declarou.

Josélia Cristina Espíndola: Parece que o odor sai de dentro de casa

Catinga - A professora Josélia Cristina dos Santos Espíndola, que nasceu e sempre viveu no Conjunto D1 da Quadra 01, falando à reportagem do Folha, disse que convive com tal situação há 43 anos.

Segundo ela, depois das 18h, parece que o odor sai de dentro de casa e incomoda todo mundo, principalmente seu filho de seis anos. Ela também está preocupada com o aporte de esgoto que virá de Sobradinho II e condomínios. “A catinga deve piorar muito”, observa.

Sua vizinha, Elaine de Fátima Pereira Guimarães, 45 anos e mãe de três rapazes, também nasceu na Quadra 1 e revela que o mau cheiro sai do ralo da banheiro, impregna os demais cômodos da casa e faz arder as narinas.

Ela também observa o aumento de pernilongos, moscas e teme que alguém da família seja contaminado pela dengue e outras doenças.

Elaine de Fátima Pereira Guimarães: Mau cheiro faz arder as narinas

A técnica em enfermagem, Marilene Gonçalves Prado, que vive com o marido e dois filhos no Conjunto D1, há 14 anos, disse que fecha bem as portas e a boca. “O mau cheiro é horrível e dá uma sensação estranha na boca. Às vezes, tenho vontade de vomitar”, revela. Ela também se queixa de que ninguém quer comprar casa no seu conjunto.

Marilene Gonçalves Prado: Sensação estranha na boca

A professora Elisângela Rodrigues reclamou que comprou uma casa no Conjunto D1, sem saber do problema e, agora, sofre as consequências. Para ela, os investimentos da Caesb são apenas paliativos e que o aumento da captação só vai piorar as coisas. Ela quer uma solução definitiva e sugeriu uma parceria com a Universidade de Brasília e outros órgãos ambientais para se buscar uma solução.

Professor Marco Antônio: Lembrai-vos do artigo 225 da Constituição de 1988

Gás sulfídrico - O engenheiro químico, Marco Antônio Almeida de Souza, professor aposentado da UnB, disse que não conhece nenhum processo de tratamento de esgoto que não produza mau cheiro, revelando o motivo de os investimentos da Caesb não surtirem efeito.

Para o professor, a causa do mau cheiro é que a ETA é uma área muito grande a céu aberto, dentro da cidade, aliada ao clima quente, o que aumenta a inalação do mau cheiro.

O químico alertou que o gás sulfídrico e compostos de enxofre que exalam da ETA são tóxicos e, em alta concentração, inibem o olfato e causam outros danos ao organismo.

“As estações dos Japão e dos Estados Unidos já são cobertas ou subterrâneas para evitar a propagação de gases. Mas, no Brasil, a legislação não fixa nem o limite dos odores nos padrões de qualidade do ar”, lamenta o engenheiro.

Marco Antônio, no entanto, sugeriu três opções para os moradores se livrarem do problema. Embora todas elas sejam questionáveis, os moradores as aprovaram. A primeira sugestão é transferir a ETA para um local distante ou desapropriar a área em sua volta; a segunda, cobrir toda a ETA e colocar filtros; a terceira, plantar uma quantidade de árvores que sirvam de cortina para impedir a passagem dos gases.

O professor também sugeriu a busca de amparo judicial para reparar os danos, de acordo com o art. 225 da Constituição de 1988 que reza:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Administrador – O administrador de Sobradinho, Valter Leite, num discurso inflamado, observou que não dá para tapar o sol com a peneira e fingir que o problema não existe.

Ele disse que a AR está de braços abertos para receber a população e buscar uma solução. “Tá na hora de unirmo-nos aos órgãos competentes para resolver o problema.

O deputado Ricardo Vale mostrou a cara e está fazendo sua parte”, declarou.

Segundo o administrador, Sobradinho está com várias obras em andamento, graças à atuação do deputado.

Solução - Ao encaminhar a solução do problema, no final da audiência, o deputado Ricardo Vale observou que, se a Caesb vai aumentar a captação de esgoto, o mau cheiro vai aumentar.

Para o parlamentar, o problema tem que ser resolvido “de um jeito ou de outro”. “Esse tipo de problema só será resolvido com pressão popular. “O Estado falhou com a população (e dano te que ser reparado)”, observou Ricardo Vale, que colocou o setor jurídico do seu gabinete à disposição dos moradores.

O deputado também colheu o nome de voluntários para participar de uma comissão para trabalhar junto aos órgãos públicos e transformar as sugestões do professor Marco Antônio de Souza em anteprojetos de lei.

“O resto, agente corre atrás”, garantiu o parlamentar, que prometeu fazer um pronunciamento sobre o problema, na Câmara Legislativa, no próximo dia 10, e colocar os demais parlamentares a par do sofrimento dos moradores da quadras vizinhas à ETA de Sobradinho.


 
 
 

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