top of page

FESTIVAL DE CINEMA Sussuapara é aqui. Viva o sertão do Piauí

  • José Edmar Gomes
  • 30 de set. de 2017
  • 4 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


Dedé Rodrigues - o cara do festival - levanta um dos candangos conquistado pelo Carneiro de ouro, no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (Foto: Agência Brasilia)

É voz corrente que as opções culturais e de lazer em Sobradinho são raras e, às vezes, não agradam a um público mais exigente. A afirmação procede, uma vez que os clubes sociais viraram sucata; as salas de cinema do shopping só projetam fitas infantis ou muito comerciais, quando não violentas em excesso.

No mais, temos no dia-a-dia (ou nas noites), alguma música ao vivo nos poucos bares que ainda enfrentam a truculências da Agefis, que os obriga a parar o som à meia-noite, exatamente quando você está entrando no clima. Isso quando um vizinho rancoroso não chama a PM, antes, só pra jogar farofa no ventilador do buteco.

E, assim, até que consigamos alterar essa tal lei do silêncio, cada um vai pro seu lado, agarrado ao celular amado. Mas essa realidade, às vezes, muda e a apatia que já tomou conta de todos nós não nos permite desfrutar de excelentes opções, com os mesmos produtos oferecidos nos espaços culturais do Plano Piloto.

A última edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é um exemplo. A Secretaria de Estado de Cultura do DF, para comemorar meio século de existência do evento, espalhou a mostra competitiva aos quatro cantos do DF e, ainda, contemplou os locais de projeção com programação multicultural, inclusive para crianças, antes da projeção das fitas.

Assim, o espaço externo do Teatro de Sobradinho, devidamente iluminado e decorado, ofereceu espetáculos de dança e música da melhor qualidade, além de alimentação e bebida a preços de custo.

Mas cadê a população que tem fome de cultura e lazer? Não apareceu. Eu vi artista do naipe de Alberto Salgado se apresentar para cerca de 20 pessoas, assim como outros do seu nível. Vi projeção de filmes para menos de 15 pessoas e outras começarem com 50 pessoas e terminar com 15.

Angelo Macarius: Às vezes, o ‘excesso de genialidade’ só agrada a quem fez o filme

E não se pode dizer que faltou divulgação. Afinal, o próprio GDF, as TVs e jornais cobriram o evento com muito mais carinho, em função dos seus 50 anos.

E é sabido que muita gente daqui, estranhamente, preferiu ir assistir a mesma programação no Cine Brasília, que todo ano bota gente pelo ladrão, durante o festival.

Então, a população chora de barriga cheia ou as opções culturais são tão ruins que não despertam o interesse de ninguém? Ou essa história de falta de opção é conversa pra boi dormir (cedo)?

Para tentar entender o problema (que parece simples, mas não é), busquei a opinião de quem é do ramo ou estava por dentro do evento em si.

O cineasta Pedro Lacerda, que já dirigiu vários curtas-metragens e está finalizando seu primeira longa, todos filmados em Sobradinho, opina que atualmente está difícil o cinema concorrer com a TV e com as redes sociais.

“As pessoas não se encontram mais. A sociedade individualizou-se. Você tem tudo em casa. Tanto é que os cineclubes acabaram,” observa Lacerda.

Além das transformações sociais, o cineasta vê sérios problemas na projeção dos filmes e na organização do evento, o que afugenta o publico. Segundo ele, o som do teatro não estava modulado, só se ouvia o grave, o que tornava os diálogos inaudíveis, em certos momentos.

O cineasta, também, viu problemas na projeção, cuja janela aparecia na tela quadrada, na forma da antiga janela analógica, enquanto deveria ser retangular, no formato 16m/9m. A janela quadrada comprime a imagem, que perde luz e se desfoca”, observa.

Pedro alega também que a divulgação deixou a desejar, pois a organização não programou a visita de nenhum ator ou atriz famosa a Sobradinho, “O que, certamente, atrairia mais público”.

Pedro Lacerda: Esqueceram de mim

Lacerda queixa-se, ainda, de que ele próprio, com sua experiência, tenha se tornado invisível para a organização do evento. “Tinha e tenho muito a colaborar com o festival em Sobradinho, mas não lembraram de mim. Quanto mais eu faço filmes, mais Sobradinho me esquece”, lamenta o cineasta.

O cantor Angelo Macarius, por sua vez, argumenta que o festival foi bom para ele e sua banda, que tiveram a honra de se apresentar no histórico aniversário de 50 anos do evento.

Quanto à ausência de público, o cantor a debita à massificação da mídia que expõe a população a músicas e filmes “medíocres”, fazendo com que certos eventos, mesmo de qualidade, caiam no descrédito.

Macarius, também, vê a Sobradinho atual muito provinciana. Para ele, a cidade já foi mais cosmopolita e seus eventos atraíam gente de outras cidades, antigamente. “Parece que regredimos”, reclama.

O artista, por fim, entende que os filmes do festival são muito herméticos, cujas histórias não se resolvem e cansam o público.

“O curta Carneiro de ouro (prêmio de melhor diretora de curta-metragem, para a cineasta piauiense Dácia Ibiapina, e o troféu de melhor curta-metragem brasileiro pelo Júri Popular, na Mostra Competitiva), que conta uma história de um cineasta popular do Piauí, foi aplaudido aqui porque a plateia entendeu a história. Às vezes, o ‘excesso de genialidade’ só agrada a quem fez o filme”, finaliza o cantor, fustigando os diretores que fazem filmes de “arte”, sem pé nem cabeça.

O fato é que - pelas razões apresentadas acima, ou por outras - nem os filmes, nem os shows, atraíram público ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em Sobradinho. O que é uma pena, sobretudo se considerarmos que o 26 mil pessoas prestigiaram as atrações do evento no Cine Brasília e no Plano Piloto..

]

Essa situação, que já se repete há alguns anos, tem que ser resolvida, ano que vem. Não podemos perder esta oportunidade ouro, nem que tenhamos que colocar mais Dedé Rodrigues na tela do Teatro de Sobradinho. Afinal, Sussuapara é aqui. Saudações ao sertão do Piauí.


 
 
 

Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

2017 - Jornal Folha da Serra: Site desenvolvido por Pedro Lacerda e Angelo Macarius em proposta editorial de José Edmar Gomes

bottom of page