FÁTIMA PAZ Explosão de emoção no palco e na vida
- Jose Edmar Gomes
- 10 de jul. de 2017
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2022

Quem a ouvia cantar nos bares e palcos da vida, jamais imaginaria que toda aquela energia pudesse acabar um dia. Mas acabou, como tudo acaba. Fátima Paz foi sepultada na tarde do domingo, 9 de junho de 2017, depois de sucumbir a uma câncer agressivo que não lhe deu trégua nos últimos meses.
centenas de fãs, amigos e artistas cantaram diante do seu corpo, prestando a última homenagem àquela que é considerada uma diva da música de Sobradinho e de Brasília. Aqui fica o respeito pela artista virtuosa, a saudade da amiga carinhosa e a história de um ser humano, extremamente humano. Fátima Paz. Descanse Paz.
Ela soltou a voz pela primeira vez, fora da de casa, no final dos anos 1970, numa gincana entre as séries da escola onde cursava o 1º grau, cantando Bloco Solidão (Evaldo Gouveia e Jair Amorim).
Além de conquistar a medalha de primeiro lugar, sua interpretação impressionou, de tal maneira alunos e professores, que causou um espécie de comoção no Centro Educacional 3, o famoso “Brejão” do final da Quadra 3, de Sobradinho –DF.
Anos mais tarde, seria o âncora da Rede Globo, Alexandre Garcia, que iria se espantar com “a potência” de sua voz, ao anunciar o show que Fátima Paz faria no Feitiço Mineiro.
Resultado: aquela noite de uma terça-feira de setembro de 2006 foi uma das mais concorridas do famoso bar da Asa Norte. Tão concorrida, que Fátima Paz voltou para casa sem nenhuma cópia do CD Tempo, que gravara três anos antes, em Natal.
“Muita gente comprou mais de um exemplar. Um venezuelano chegou a comprar sete discos e me disse, num misto de portunhol e espanto: Tu voz es tão grande que não cabe em tu alma”, conta Fátima Paz.
Caicó - Mas, não é à-toa que a cantora conquista pessoas e domina os palcos, de forma tão intensa. A sua bagagem musical remonta ao sertão potiguar, mais precisamente a Caicó, onde ainda muito pequena apreciava a Banda Alvorada executar clássicos de Pixinguinha e Noel, nas festas da padroeira Nossa Senhora de Santana. A banda era regida por um certo João Lubardino, que, não por acaso, era seu pai.
O velho Luba tocava violão e sax e promovia gostosos saraus familiares, ambiente que impregnou a alma da pequena Fátima da musicalidade que ela começou a exteriorizar quando mudou-se para Brasília e começou ouvir Mutantes, Elis Bethânia, Rita Lee, Belchior e o Pessoal do Ceará.
O trabalho de Rita Lee, aliás, tem especial admiração de Fátima Paz. Para ela, a autora de Ovelha Negra consegue falar de amor de forma despojada e sem preconceitos, o que a inspira e traz imediata identificação. O mesmo ocorrendo com o extinto Grupo Secos e Molhados e Nei Mato Grosso, que transmitem sensibilidade acima da normal.
Rio - A admiração que Fátima conquistou em Brasília, também, ocorreu no Rio de Janeiro, para onde se mudou, após se casar com um homem ciumento, que não a deixava cantar fora de casa, mas que acabou contribuindo para ela fazer sua primeira apresentação profissional.
Nova Zelândia - O tal marido ciumento teve que viajar para a Nova Zelândia, na época em que a Boate Leblon estava realizando um festival para descobrir novos talentos musicais.
Aproveitando a ausência do marido, ela se inscreveu e interpretou Amor até o fim, de Ivan Lins, foi classificada e chegou à final cantando Como nossos pais, de Belchior . Ganhou o festival, foi contratada pela boate e se separou do marido.
A partir daí, a noite da Cidade Maravilhosa passou a ser uma criança para Fátima Paz. Ela cantou em diversas casas e chegou ao Beco da Pimenta, famosa casa de Botafogo, frequentada inclusive por Elis Regina, onde foi atração por seis anos.
Natal - Do Rio, Fátima seguiu para Natal, contratada pelo Restaurante Casarão, depois transferiu-se para o Guinza - badaladíssimo restaurante japonês da praia de Ponta Negra, onde se apresentou por mais seis anos e conquistou a simpatia dos natalenses.
Foi em Natal, já no início de 2003, que ela gravou o emblemático CD Tempo, com músicas inéditas, compostas por Miguel Weber, proprietário da TV Cabugi, afiliada da Globo no RN; Carlos Spinelli e Diógenes. Das 12 faixas inéditas, ela destaca Intimidades (Spinelli/Weber) e Dunas (Diógenes).
Brasília - De volta a Brasília, onde encantou o jornalista Alexandre Garcia e os clientes do Feitiço Mineiro, a cantora de Caicó/Sobradinho (porque não dizer do Brasil?) continua fazendo shows e está contratada pela Secretaria de Cultura, desde 2013, como uma das estrelas do Projeto GDF Junto de Você, além se preparar para relançar o CD Tempo, com repertório ampliado.
Ao fazer um balanço de sua trajetória musical, Fátima se dá conta do tamanho da estrada que já percorreu e se emociona, mas observa que faz tudo isso pela irmã Socorro, o cunhado João Dutra, as filhas Isabelle e Nathalie , o sobrinho Hugo Pierre e pelo atual marido, José Alves Júnior.
E, nos intervalos da ‘batucada da vida”, Fátima vai ouvindo Cartola, Nelson Cavaquinho, Roberto Carlos, Chico , Caetano,Vercilo, Baleiro, Chico César e Wanderlee, outros seres encantados que povoam sua vida. (José Edmar Gomes)
FÁTIMA
Você tinha a paz dos cataventos
Era linda a cada momento
Quando chorava, sangrava
Quando sorria, parecia
Um anjo guardando a vida
Do sofrimento
FÁTIMA, Minha Senhora de Luz,
Todo dia foi lindo
Te conhecer
Agora vou te procurar
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