NOGUEIRA DE LIMA Arte é dom de Deus
- Jose Edmar Gomes
- 8 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2022

Nogueira construiu as primeiras casas de Sobradinho e se apaixonou pela cidade
Aos 87 anos, o escultor e pintor Nogueira de Lima, nunca pensou em deixar de produzir suas peças artísticas, embora ande um pouco decepcionado com o panorama da arte em Sobradinho e no Distrito Federal.
Ele revela que parou de expor, há cinco anos, em função da exploração das galerias particulares, que cobram até 50% do valor de venda das obras. “Isso não tem lógica”, afirma o escultor, que está entre os onze artistas que compõem a mostra Sobradinho 57 Anos – Cidade Arte, na Galeria Van Goh.
Embora contribua com várias esculturas e entalhes para o acervo da exposição em cartaz na galeria de Sobradinho, o artista afirma que exposições como essa não têm dado retorno comercial, uma vez que a crise econômica faz com que as pessoas deixem de consumir arte para atender necessidades imediatas.
Nogueira observa que a comercialização de peças artística não vai bem nem mesmo no Plano Piloto, onde o poder aquisitivo é bem maior. “No Plano, muitas pessoas colecionam meus trabalhos. Só um colecionador me comprou cinco trabalhos. Tenho trabalho no exterior e minhas peças têm preços razoáveis, mas ultimamente as vendas estão ruins”.
Cajazeira
Para confirmar que o preço de suas obras é bom, Nogueira aponta para a escultura em madeira O Trabalhador, que custa por volta de R$ 5.500,00. “Trabalho com madeiras de Goiás, Minas, como sucupira e peroba, depois que esculpo, dou um tratamento nas peças. Duram a vida inteira”, garante.
O espírito artístico de Nogueira de Lima começou a se desenvolver aos 12 anos, em São Miguel –RN, onde nasceu e seu pai era carpinteiro. Lá no sertão, observava as fases da cajazeira, árvore típica do lugar, que tem uma peculiaridade que chamou a atenção do garoto.
“A cajazeira troca de casca como a cobra troca de pele. É uma casca grossa e macia da qual eu comecei a fazer meus primeiros bonecos e esculturas de animais,” revela.
Pioneiro de Brasília, aqui chegou em 1958, e foi morar na Candangolândia. Logo começou a trabalhar na Novacap, construindo residências para os candangos e acompanhou de perto os projetos de implantação de Sobradinho e Taguatinga.
“Niemeyer queria abrigar melhor as famílias que moravam debaixo de sacos de cimento, nas margens da W-3 e elaborou os projetos. Eu, que era mestre de obras e marceneiro, ajudava nas construções e mudança das famílias. Agente fazia um barraco no mesmo dia”, conta o pioneiro.
Sobradinho
O escultor conta que simpatizou “de cara” com Sobradinho, onde ajudou a construir as primeiras casas de madeira, em 1959, e decidiu morar aqui, desde aquela época.
Nogueira conta que, apesar de trabalhar duro no governo, fazia suas esculturas aos finais de semana. Hoje, com nome firmado no panorama artístico da Capital, ele se reconhece primitivista, mas experimenta o realismo, o surrealismo e esculpe também em concreto e monta peças de sucata.
“A arte para mim é uma terapia, um dom de Deus. Muitas pessoas têm inteligência, mas não explora seus dons. Eu fico sozinho para não desviar a atenção. Olho para a madeira até que a inspiração venha. Às vezes, levo até 20 dias para terminar um trabalho”, explica.
Nogueira reconhece em Sobradinho uma cidade de artistas e se identifica com seu clima, sua natureza e com o calor das pessoas. “Aqui a juventude me acolhe, sou convidado para ir às escolas”, orgulha-se um dos decanos da arte sobradinhense.
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