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Os pioneiros de Sobradinho Nelson Ângelo Tiemann

  • Antonio Caetano
  • 7 de mar. de 2017
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2022


Ele veio de Curitiba com a esposa e três filhos no ano de 1957, a convite do saudoso Bernardo Sayão, que na época era um dos diretores da NOVACAP e um dos curingas de Juscelino Kubtschek , na construção da Nova Capital. Estamos falando de Nelson Ângelo Tiemann, o ‘seu Nelson das Abelhas’, como é conhecido em Sobradinho, pseudônimo que o acompanha desde sua chegada, e ele explica que ganhou o apelido porque nas horas vagas, depois do trabalho, capturava abelhas silvestres criando-as em chácaras de amigos e depois vendia o mel para complementar o orçamento familiar.

Na NOVACAP, ele começou a trabalhar no Departamento de Terras e Colonização, mais tarde foi transferido para o Departamento de Educação e Difusão Cultural e, em seguida, foi lotado no DOAM, Departamento de Organização Municipal, órgão responsável pelo pagamento das firmas e prestadores de serviços, o que corresponde hoje, segundo ele, ao GDF. Seu trabalho no órgão era de realizar pagamento nos locais onde aconteciam as obras e como ele mesmo conta em uma dessas missões veio a Sobradinho, quando foi convidado pelo então administrador Henrique Texeira Tam, primeiro administrador da cidade, a compor em sua equipe e organizar o primeiro quadro de servidores da Regional.

“Acetei, fiquei como secretário do Henrique e foi aí que começou o meu caso de amor com Sobradinho”, comenta. Todos os dias se deslocava de madrugada da Candangolândia onde estava residindo provisoriamente com a família, para Sobradinho. Aliás, ele conta um episódio sobre o nascimento dos dois últimos filhos, quE nasceram na Candangolândia, Nelson Angelo Tiemann Filho e Elvane Veiga Tiemann, pela proximidade com o Zoológico, brincava com os garotos: “olha vocês nasceram aqui, mas não são bichos (rrss) são gente”, e lembra quando foi registrar os filhos no cartório de Planaltina, na certidão de nascimento de ambos constava a seguinte observação: ‘Nascidos na Candangolândia futura capital do Distrito Federal’.

Como homem de confiança do administrador organizou o quadro de servidores da Regional e comandava as equipes de operários que faziam o arruamento das quadras. Naquela época (1960), a cidade começava a receber os primeiros moradores, operários da Vila Amauri, Vila do Sarrafo e Vila dos Afogados, que foram locados nas quadras que já se encontravam demarcadas, as quadras quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, 10, 11 e 12. Aqueles que resolveram fixar residência tinham oportunidade de ganhar um lote com casa, autorizado pelo presidente Juscelino Kubstchek. Não havia ainda nenhuma unidade de saúde, correio e cemitério, somente duas escolas, nas quadras seis e 10, que funcionavam precariamente, sem água e luz.

A população serrana oscilava em torno de três mil e quinhentas pessoas, mas já tinham um consciência política apurada, prova dessa maturidade ‘seu Nelson das abelhas’ narra no episódio em que passou de coadjuvante a protagonista. Na Administração foi descoberto um desvio grande de materiais, no almoxarifado da unidade, praticado pelo administrador, a população tomou conhecimento e revoltada fez o enterro simbólico de Henrique Texeira, que foi afastado e chamado ao Plano Piloto para dar explicação do desvio.

Como secretário e segundo homem na hierarquia, ‘seu Nelson das Abelhas’ assumiu pelo período de um mês, no lugar de Henrique Texeira, transformando-se no segundo administrador sobradinhense. “É incrível, mas nessa época já existia essa prática abominável! A corrupção que parece estar no DNA dos políticos do Distrito Federal”, as aspas é do repórter.

Israel Pinheiro de uma só canetada nomeou dois adiministradores para Sobradinho. “Não sei onde ele estava com a cabeça”, comenta Nelson. O primeiro foi o major Abgail Romero e o segundo Hernandes Jaguaribe. “Preparei os servidores para recepcionar o major, aí chegou também o outro, e os dois foram juntos procurar Israel para resolver o imbrógrio”. Nelson conta que o Major foi o escolhido para Sobradinho e ele continuou como seu secretária e Jaguaribe foi administrar o Núcleo Bandeirante, isso por volta de 1961/62 e Nelson já residia com a família na quadra 06.

O Major logo pediu transferêcia e o quarto administrador foi Milton Jacinto da Veiga que já veio com secretário e sem nenhuma explicação dispensou ‘seu Nelson’ que passou dias difíceis sem pagamento e com a família para sustentar. O presidente da NOVACAP, na época, coronel Dulcídio do Espírito Santo Cardoso ao saber, mandou fazer sua readimissão e pediu para ele escolher o cargo que desejasse na administração de Sobradinho. Nelson optou por organizar o Departamento Imobiliário, montou escritório em sua própria casa, com a anuência de sua chefia imediata e com uma equipe de seis funcinários reordonou todos os terrenos, lotes e casas, quadra por quadra, com sua devida classificação e situação documental.

A árvore dos enforcados

‘Seu Nelson das Abelhas’ lembra muitos outros fatos interessantes, como a visita de Juscelino Kubstchek por volta de 1963, em que ele e os servidores da Administração organizaram a recepção para o Presidente e sua equipe em cima da carroceria de um caminhão, na ocasião, Juscelino anunciou a construção do Sandu, primeiro hospital da cidade, localizado na quadra 06.

Ele recorda também que a primeira bandeira de Brasília foi confeccionada em Sobradinho pelas costureiras que trabalhavam em um atelier no Centro Espírita Bezerra de Meneses. Outro fato interessante é a árvore dos enforcados, um frondoso Imburuçu, da família Malvaceae, localizado no Parque do Jequitibá, onde segundo ‘Seu Nelson’, um operário da época da construção da Capital e um andarilho suicidaram, por enforcamento, em uma das galhas da árvore. Muita gente evitava passar pelo local quando ainda não havia residências próximas, nem a criação do parque, com receio dos boatos de que o local ficou assombrado depois do ocorrido.

Fundador da Feira da Lua e da Feira do Produtor, ele mantém uma lucidez impressionante e nunca para, principalmente quando se trata de alguma ação em prol de Sobradinho. Memória privilegiada recorda das denúncias e a campanha do ‘Folha da Serra’, para salvar o Ribeirão Sobradinho. Lembra que na última gestão do governador Roriz percorreu o leito do Ribeirão, com servidores do Instituto do Meio Ambiente do DF, encontrou todo tipo de lixo doméstico, animais mortos e até uma carcaça de fusca. Fez relatório de tudo e entregou à Administração e até hoje ninguém tomou nenhuma providência para salvar o único Ribeirão que banha a área urbana de Sobradinho.

Com a autoridade dos seus 93 anos bem vividos e grande parte dedicada a Sobradinho, ‘Seu Nelson das Abelhas’ é um exemplo de pai de família, um exemplo de cidadania e de amor à terra e sua gente que escolheu para viver. Numa sociedade tão divorciada de solidariedade, das suas tradições históricas, da preservação do meio ambiente e valores morais, ele é um modelo que deve ser seguido pelas futuras gerações serrana.

Antônio Caetano.


 
 
 

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